6 de nov. de 2009

Míopes

Não se desespere não, amor

Não se desespere não, amor
Com a falta de brilho de um dia sem cor
Com a cebola escancarada no bife
Com os programas de computador
Com o salário que não dura meio mês
Com o professor que tanto te estressa
Com a segunda-feira que não cessa
Com os tais processos trabalhistas
Os punguistas, os contrabandistas,
Com as fotos sem retoque
Com todo meu estado de choque
Com as frases atravessadas
Com a distância de nossas calçadas
Não se desespere não, amor,
Pois não há frustração que não se repare
Tão pouco há mal que nunca termine
Não se desespere não, amor
Amanhã estréia um novo dia
E depois, um outro e outros mais
Incalculável sucessão de tardes e risos
Um horizonte ilimitado para nossos olhos míopes.

5 de nov. de 2009

Prelúdios da falta

Se...

Ela anda esquecida. Ela anda distante. Ela anda irritada.

Será que mando flores? Será que mando chocolates? Mando um cartão bem impresso com acabamento especial? Faço-lhe um poema? Escrevo uma carta e mando pelo correio? E se ela não gostar?
Será que ligo? E se ela não quiser falar?
Convido pra jantar? Chamo pra ir viajar? E se ela recusar?
Será que digo que estou precisando dela? Será que peço mais atenção? E se ela se incomodar, achar que estou cobrando demais?
Será que choro? Será que rezo? Será que peço conselho a algum amigo? Será que me calo? Será que me deito? E se nada disso der certo?
Será que ela volta? Será que ela me abraça? Será que ela me beija? Será que ela se entrega de novo? E se ela já não estiver disposta?
O que eu falo pra ela? E se ela não gostar? O que eu faço? E se ela gostar? Como eu continuo?
E se ela desistir? E se ela se perder? Onde eu a encontro?
E se ela voltar? O que eu faço primeiro? O que eu faço depois? E se eu me perder?
Será que ela me aceita? Será que ela me entende? Será que ela me quer? E se não quiser?
Será que choro? Será que rezo? Será que peço conselho a algum amigo? Será que me calo? Será que me deito? E se nada disso der certo?
E se eu perder a graça? E se eu não valer a pena? E se eu não a fiz feliz? E se eu nunca souber? E se eu nunca esquecer?
E se o se nunca acabar?


Ninguém lá

Eu vi um homem que seguia lento
Já bem curvado com o pesar dos anos,
Trêmulas as mãos, os pés não mais levianos,
Rosto marcado, coração que ficou no tempo

Dele me aproximei com olhar atento
Pensei: "Quantas lutas, desenganos,
Causaram-lhe tanto abatimento?"
Me reconheci naquele olhar

E ele prosseguia lentamente
Tão solitário em meio a tanta gente
Arrastando a sua história sufocada

Será que teve filhos?
Não vi nenhum ali te dando a mão
Talvez, seu amor se foi na juventude

Ele não a esqueceu.

27 de out. de 2009

O bêbado e a senhora

Pelo seu querido binóculo, Ezequiel observava a vida dos outros passando. A dele já havia passado. Observar a rotina das pessoas fazia dele mais humano e menos besta. Aquele hábito mantinha-o sóbrio, quase no limite de atravessar a linha da loucura, mas ainda sóbrio. Vez ou outra, desejava enlouquecer e viver no mundo que ele havia criado. Vez ou outra, ele sentia vergonha, angústia, desespero, medo, frio, fome, repulsa e sono. Na maioria das vezes, ele só observava a vergonha, angústia, desespero, medo, frio, fome, repulsa e sono das pessoas.

Nesses sabe-se-lá-quantos-anos de rua, notou que o paulistano é paciente e solitário. Paulistano espera o semáforo abrir, espera o trânsito andar, espera um lugar no restaurante, uma vaga no estacionamento, a fila no banco, a fila na loja, outra fila pra comprar o ingresso do cinema ou do jogo do seu time, espera pra ter alguns centímetros quadrados no ónibus e no metrô, espera seu lugar ao sol, espera a garoa das 6 da tarde, o fim-de-semana chegar pra poder trabalhar mais em casa, as férias pra fazer entrevistas e mudar de emprego, espera dar o horário do rodízio pra ir trabalhar, espera o chefe ir embora pra poder ir pra casa, o aumento pra poder comemorar, espera o sol pra descer a serra, a madrugada pra poder dormir, a doença pra ir ao médico, a morte pra viver a vida... Paulistano é rodeado por milhões de pessoas, mas é tão sozinho que Ezequiel não conseguiu achar um exemplo comparável. Todo mundo se olha. Ninguém se enxerga.

Ezequiel enxergava.

Dali de seu canto, na calçada de uma loja de pneus, a um quarteirão do Elevado Presidente Costa e Silva - o Minhocão - presenciou um beberrão falando de Deus, pregando a bíblia, falando de salvação, de pecado, de paz, amor e a graça de viver. Discursou alto por vários minutos, repetindo várias vezes determinados salmos e se embaralhando em algumas frase. "Deus é pai. Deus é a salvação de todas as almas e de todos os corações. Confia em Deus. Confia. Deus salva!" - dizia ele. Os passantes e moradores olhavam com ar de curiosidade e vergonha alheia, mas a pressa não permitia que eles fizessem mais do que isso. De repente, uma senhora gorducha sai da portaria do prédio e começa a reclamar com o tal "pastor andante". A reação dele, diante da situação, foi nada diferente do esperado: violenta. Com dois pontapés e a socos derrubou na calçada a pobre senhora. Ela bateu com força a cabeça no chão e ficou lá se debatendo. O pregador da paz terminou por causar o caos. Enquanto a senhora ficava a gritar de raiva e dor, o bêbado saiu dali. Nem sequer foi correndo. Ninguém foi ajudar a senhora. Ninguém foi atrás do cara. Simples assim.


Depois de alguns minutos, Ezequiel foi até lá ver como a senhora estava.

21 de out. de 2009

católico

c a s a m e n t o

casei de véu e grinalda
eu de branco, ele também
em suas mãos, o par de alianças douradas
nas minhas, um buquê de lírios, delírios
na minha cabeça, um pescoço leve
na dele, anseios pela noite de núpcias


e que venha a lua de mel

6 de out. de 2009

Transeunte

Jogou aquela tralha toda na calçada e decidiu que chamaria aquele canto de lar. Um colchão velho, um cobertor mais velho ainda, um par de chinelos sujos e maltratados, botas gastas, meia dúzia de roupas, dois bonés e um binóculo. Este último, por sua vez, ele havia encontrado no lixo em bom estado e carregava sempre consigo. A dignidade ele havia deixado para trás, há vários quarteirões dali.

Com o dinheiro que arrecadou com a esmola do dia, foi até a lanchonete da esquina, comprou um pão com presunto e o resto de cachaça. Saiu de lá se apoiando no ócio e quase tropeçou quatro vezes, mexeu com duas moças que passavam, clamou pelas putas do puteiro ali ao lado, ensaiou uma dança sem música, um discurso sem platéia, sentou em seu canto e se pôs a bater uma punheta ali mesmo. Era ele e seu momento egoísta de prazer. Pronto. Estava realizado por hoje. Podia dormir em paz.

Acordou no susto e viu carros. Muitos carros. Quase mais carros do que pessoas. Buzinasgritospassosmotoresfreiadastropeçosconversascelularestocandobuzinasemaisbuzinascaos. Estava tudo ali ao mesmo tempo. Três crianças fumavam crack logo ali, enquanto outras duas pediam esmola no semáforo.
Ezequiel nem chamava mais tanta atenção. Vários outros como ele transitavam naquela rua. Subitamente, ele havia até recuperado seu nome. Pegou o binóculo e começou a observar os detalhes. Naquele momento, ele era o único que enxergava.

11 de set. de 2009

Ausência

Acordei às 3 e 47 com uma ligação no celular. Era meu anjo da guarda se queixando sobre minha inquestionável desatenção. Parecia tão perplexo, tão perdido que as palavras vinham soltas, ficavam no ar. Depois dessa ligação, eu senti um breve mal-estar. Senti a janela do quarto tremer e, depois, parecia que alguém estava batendo. Ensaiei por alguns segundos mantendo meu rosto no travesseiro até que tomei coragem e olhei através das cortinas. Aparentemente, ninguém. Naquele instante, me veio um calafrio de cima a baixo. Levantei e fui beber água. Dei uma rápida volta no apartamento pra ver se encontrava algo atípico. Nada. Todos dormiam em paz. Deitei novamente e a sensação continuava. Cheguei a sentir algo gélido tocar rapidamente meu dorso. Passou logo em seguida. Comecei a prestar atenção nos ruídos na janela. Calculava se as batidas aconteciam no momento seguinte em que os carros passavam lá em baixo. Não aconteciam. Me preocupei em calcular a velocidade do vento lá fora. Mal tinha vento lá fora. Entendi que aquele incômodo deveria ser psicológico. Não havia nada de assombrado ali. Eram só paredes, janelas, alguns poucos móveis e muita angústia. Muita desatenção. Liguei pro meu anjo da guarda. Ele ainda estava perturbado. Tentei falar algumas breves palavras na tentativa de expressar um pouco o que estava sentindo. Não acho que tenha conseguido cumprir a missão, mas falar com ele me trouxe uma leve sensação de conforto e dever cumprido, mesmo que a conversa tenha dado a entender que ele queira ficar um tempo longe, descansando em sua nuvem, recuperando suas asas, de repente, até guardando outra pessoa. Desatenção deve dar muito trabalho pra anjo da guarda. Eu não o culpo por isso.

Eis que hoje eu acordei pela metade. Acordei meio sem vontade. Eis que hoje o dia não nasceu. Eu que achei que não precisava de anjo da guarda, lamentei a ausência do meu.

21 de ago. de 2009

Gerundismo

Hoje acordei cheio de gerundismo. Vou estar dormindo mais 5 minutos depois de acordar pela terceira vez. Vou estar tomando um banho quente e demorado pra aquecer esse frio que até parece inverno. Vou estar assassinando o motoqueiro filhodaputa que tentou passar onde não cabia e arranhou meu carro. Vou estar ficando stressado com o trânsito louco dessa cidade maluca. Vou estar sentindo falta do sorriso da menina, das brincadeiras bobas de touro mecânico e de cheirar o feromônio por baixo dos braços nus. Vou estar ficando aliviado com o fim do job atrasado. Vou estar ficando feliz com o amigo ganhando aumento, o outro sendo contratado, o outro pegando trabalho extra e eu descansando. Vou estar ficando feliz com a ligação do pai. Vou estar comemorando o show de uma banda que queria tanto ver. Vou estar empolgando com a decoração do quarto, com a chegada do fim-de-semana, com a proximidade da estação. Vou estar ficando cansado de tanto gerundismo, de tanta repetição. Vou estar confessando que tudo isso foi só uma intenção de romper com meu hiato literário-criativo e jogar um pouco de palavras ao vento. Vou estar confessando que vomitar palavras me faz bem.

22 de jul. de 2009

Corro

Corro pra encontrar a sorte Corro da sombra Corro da luz Corro de quem me persegue Quando canso caminho Nunca paro Nunca paro Corri de chuva Corri de sol Corri de calor Corri de frio Corri da mãe professora primo tia vó Corri de bandido De amigo brincando de pega pega Corri de física química biologia Corri pra pegar pipa Corri jogando bola Corri atrás de estrela de disco voador de galinha d' angola Corri pra pegar ônibus Corri pra chegar cedo Corri pra perder peso Corri do que desconhecia Corri de quem nem me via Corri por correr Tropecei caí levantei Corri tropecei caí feio machuquei mais feio ainda levantei Corri por medo por raiva por pressa por vergonha Corri da morte Corri da afronta Corri da falta de perspectiva Corri da incerteza Corri da certeza de não ter certeza Corri da mediocridade Corri pra ver o mar Corri sozinho Corri de quem correu sozinho a vida inteira Corri de sei lá o que de sei lá onde Sei lá Cansei Caminhei pensando em voltar a correr Corri do ódio Corri do amor Tropecei não caí continuei correndo Corri pra te encontrar Encontrei É minha última chance Corro Nunca paro Nunca paro

23 de jun. de 2009

Assédio e egoísmo

Talvez

Talvez você nem saiba
Que quando você passa
A rua inteirinha se faz acordar
A rua inteirinha te anuncia

Talvez você se esqueça
Que caso eu mereça
A vila inteirinha vai conspirar
A vila inteirinha te assedia

Talvez você me entenda
Quando eu criar a cena
Que a cidade inteirinha vai elogiar
Que a cidade inteirinha me veja

Construí uma avenida
Com palavras e aquarela
Coloquei seu nome nela
E fechei com fino estar

Usei cubismo em duotone
Com paletas de egoísmo
Foi aquém do que eu preciso
Pra só eu te ver passar.

17 de jun. de 2009

Mais uma comemoração


Até

O mar
Ah, mar...
Amar
Martírio
Mar lírio
Amortecer
Amor tecer
Amortizar
A morte usar
Amor te dar
Até a morte

27 de mai. de 2009

A comemoração de 1 ano e 9 meses de blog

E desde quando isso é razão pra comemorar?

Acordei com vontade de escrever um pouco mais sobre mim do que quase todo mundo sabe. Acho que não me lembro de ter tido essa vontade de escancarar a porta. Nas vezes que escrevi de mim, escrevi disfarçado de narrador ou me escondi através de um eu-lírico letárgico.

Filho de Leonardo e Cleonice, irmão mais velho de Diêgo, pisciano, nasci em 25 de fevereiro como Leonardo Curcino Alves de Sousa Junior e acabei virando só Leonardo Curcino ou Leo Curcino mesmo (como instituiu o Victão no coletivo manazinabre.blogspot.com, na qual participo todos os terceiros dias do mês, fora algum displicente atraso). Nasci mineiro, virei goiano e agora estou paulistando. Na terra das oportunidades e do caos, formado publicitário, vim buscar meu brio. Os holofotes que sonhava na infância ainda não vieram, nem mesmo o sucesso e a estabilidade, mas veio a independência.

Provavelmente, a publicidade tenha sido mera consequência. A paixão pela arte veio logo cedo. Aos 6 ou 7 anos, dava meus primeiros rabiscos. Aos 10, comecei a pincelar. Depois, vieram o interesse por quadrinhos, literatura, poesia, música e cinema. Acabei me envolvendo um pouco com tudo isso e não me dedicando exclusivamente a nenhum. No fim das contas, artista frustrado, virei Diretor de Arte. A tablet substituiu o lápis e o papel, apesar de minha prática com ilustração ter se tornado quase nula. Meu violão, eu encostei em um canto qualquer. Os quadros que pintei se perderam em uma das mudanças de residência e as tintas guache, nanquim e óleo deram lugar ao Photoshop. Continuo escrevendo com ar de quem não sabe muito onde quer chegar. Geralmente, gosto de me expressar através de poemas, mas me arrisquei a escrever em prosa umas 5 ou 6 vezes. Não gosto de escrever coisas longas. Fico com medo de me perder e a história perder o ritmo, a graça e o rebolado.

Costumo falar que meus poemas são semi-poemas ou irregulares e, consequentemente, eu sou um semi-poeta. Não tenho a disciplina dos gregos em escrever seguindo as normas. Não ligo pra métrica, pra rima e pro ritmo. Não me preocupo se minhas estrofes são monostícas, dísticas, ..., quintilhas e assim por diante. Não me preocupo com os antecantos e bordões. Não tenho a menor paciência pra escansão. Prefiro usar e abusar das licenças poéticas e alegorias. Até entendo os conservadores que consideram tal prática irresponsável, mas não me importo, sinceramente.

Nesse 1 ano e 9 meses de blog, escrevi sobre vários assuntos, mas devo concordar que a principal temática foi o amor. O mais curioso de tudo isso é que eu nunca tinha amado, até então. Talvez, tenha gostado de uma ou outra pessoa, o que é normal, mas sempre me inspirei nos romances de filme, casais de amigos, em pontos de ônibus, restaurantes, cinema ou, talvez, no romance que gostaria de viver. Ele veio. Hoje, vejo como muitas coisas que eu escrevi servem pra mim e fazem muito mais sentido agora. Hoje, quase todas as canções de amor fazem sentido. Prova disso é que foram 76 posts e o único texto que não era meu é justamente dela! Mais curioso ainda é que se estamos juntos hoje é principalmente graças a este blog, já que foi através dele que nos conhecemos e através dele que veio o encanto recíproco. Obrigado Volúpia Casual, obrigado por cada palavra, cada data, cada comentário, foi tudo muito válido.

Espero que venham muitos outros anos e meses. Espero que o sucesso venha. Espero que os leitores LEIAM e comentem. Espero que hoje eu não tenha que trabalhar até tarde. Espero que o Corinthians seja campeão. Espero que o romance dure. Espero que a volúpia continue e seja, cada vez, menos casual.

25 de mai. de 2009

Travesseiro e cobertor


Me aconcheguei entre seus seios cobertos por uma confortável blusinha rosa semi-decotada. Era muito mais uma cena de conforto do que erótica, mas foi impossível não querer estar dentro de você naquele momento. Foi impossível controlar meu sexo que palpitava por baixo da bermuda. Aquele momento durou uns três minutos ou, talvez, tivessem sido quinze ou vinte, sei lá... Cá entre nós, eu fiz questão de aproveitar cada segundo daquele instante. Quando acabou, não sei se estava me sentindo melhor ou pior por ter acabado. Me bateu uma súbita ansiedade quase desesperadora. Agora, vou ter que esperar a semana inteira pra deleitar suas roupas, invadir suas pernas, manchar seu lençol...

Mas... E se semana que vem não chegar? E se me deixar na quarta ou na quinta?
Não é algo lá tão impossível considerando a inconstância do mundo e a sua inconstância. Esse pensamento trouxe consigo uma súbita agonia e uma taquicardia que preferi não assumir. Passou.

Tentei uma ou quatro vezes, mas não consegui me lembrar qual foi a última conversa que tive com seu travesseiro nem o último segredo que contei para seu cobertor, mas alguns suspiros depois, pude ouvir ambos me chamando insistentemente. Era como se eles fizessem questão de minha presença. Essa sensação me deu um pouco de paz interior. Passou. Mas pelo menos, sentia que os objetos da sua casa me queriam por perto. Talvez sua cachorrinha de estimação e o video game do seu irmão também queiram. Uma ou outra coisa também devem gostar da minha presença. Você, talvez, de vez em quando, também goste, mesmo eu não estando sendo nem de longe o homem que gostaria de ser.

Arrumei de qualquer jeito a mochila que sempre levo, esqueci alguma coisa ou outra em seu quarto - talvez, propositalmente, pra ter a certeza de que vou voltar pra buscar - e embarquei. Dentro de três ou cinco horas estaria em casa, dormiria uns trinta ou cinquenta minutos e iria para o trabalho. Pronto. Começou de novo. Estou sendo vencido pelo sono. Talvez, nem consiga terminar de escrever até o final. Acredito que dentro dos próximos instantes, irei apagar aqui no onib

4 de mai. de 2009

Sexta


É triste começar um texto falando do final. É como revelar o final do filme no trailer ou casar o galã e a mocinha da novela no primeiro capítulo. É desconcertante e pode até tornar a obra pobre, mas desculpem esse fraco pseudo-poeta se arriscando a escrever sem versos. Não consigo fazer diferente agora. É segunda-feira e segunda-feira é dia de despedida. 

Ela embarcou hoje de manhã e levou consigo o sorriso sereno. Deixou comigo a saudade pré adquirida e o sono de uma noite mal dormida. Estes embarcaram comigo no metrô enquanto eu ainda procurava a mão que me conforta. Semi-acordado, estupefato, tateando o assento do trem, cheguei a tocar a mão de uma senhora ao meu lado. Com um semi-pulo, acordei sem graça quando percebi que era a mão errada. Mas era como se a mão dela ainda estivesse presente. Era tão recente a despedida que eu ainda não tinha me acostumado com sua ausência. Ainda não tinha digerido. A sensação de afasia é bem mais aparente no dia da partida e no dia que antecede a partida!

Foi-se o dia, entardeceu, anoiteceu... Amanhã é terça, quarta tem jogo decisivo do meu time e quinta é o dia que antecede o fim da falta. Que o relógio acelere. 

24 de abr. de 2009

Piada

Espetáculo de absurdos

Foi somente uma piada sem graça
Para animar um espetáculo de absurdos
Os artistas se esconderam atrás do vermelho
O público foi embora sem aplaudir
E todos os flashs foram em vão.

19 de abr. de 2009

Perdendo os sentidos

Quisera eu ser a única por quem suspiras
E a única a ouvir todas as noites teus gritos loucos, roucos

Quisera eu beijar-te os lábios ternos
E degustar-te todo o corpo, até que te quedes morto

Quisera eu tocar-te a pele cálida, atingir-te a alma
E então descobrir aquilo que ocultas, sem culpas

Quisera eu o teu cheiro em minhas vestes
E que só comigo partilhasses tal perfume, para que eu jamais perecesse de ciúme

Quisera eu fixar em ti meus olhos,
Contemplar-te a face serena e encabular-te sem pena.

*Quanto ao meu sexto sentido de mulher,
Revelo que este não menos te quer
Seja na tristeza ou na alegria,
Seja na poesia do dia-a-dia.


"Querido, a diversidade de tempos verbais teve o seu propósito. Foi a forma que encontrei de demonstrar que o que sinto por ti ocorre em qualquer tempo.

Te amo.

Beijos,
da tua Aline.

18/04/2009"

30 de mar. de 2009

Queria...

Me bastasse

Queria tanto um amor, súbito,
Devastador, sem sentido,
Que me arrebatasse,
Me desmaiasse,
Me amassasse o vestido

Queria que me encontrasse,
E me observasse à distância,
Como alguém da mais remota infância
Um alguém sorridente, de covinha indecente,
Que me dissesse nos lábios
O mesmo que meu peito
Que me batesse nas veias
O mesmo fervilhar sem jeito

Queria tanto amar
Sem culpa ou lugar, caminhar na calçada
- de mãos dadas -
Ser feliz na orla, na sorveteria,
No bar, na drogaria
Meu cachorro, sua poesia


Queria tanto saber que fiz alguém feliz,
Que esse alguém sente minha falta,
Que me procura nos desenhos das nuvens
Me bastasse uma vida contigo
Me bastasse um minuto de ti
Me bastasse...

Avesso


Simplesmente

E nada disso importa
É uma noite assim
Que me deixa do avesso
Amanhã meu patrão vai ligar
E você vai dizer a ele que
Não fui simplesmente porque
Não sabia onde ir.

16 de mar. de 2009

Já decidi.

Segunda-feira
Segunda-feira brada forte as suas dádivas
E as suas dúvidas não se calam ao amanhecer
É quase um vínculo, um faz-parte-do-seu-ser,

Mas minha dívida não termina no fim do mês
Nem mesmo a minha eloquência obtusa
Nem mesmo a minha rude transparência
Eu não vou desistir dos seus versos
Eu não vou esquecer seus gestos ás
Eu não vou aviltar sua bela face
Logo agora que encontrei a minha paz?
Logo agora que me perdi com teus sinais?
Bastou só um sorriso de canto de boca
E eu não tinha mais dúvidas,
Não tinha mais dívidas, só paz
Deitei ao seu lado uma vez
E eu não tinha mais dúvidas,
Não tinha mais dívidas, só paz
Já decidi pra onde quero que a ventura me leve.

17 de fev. de 2009

Sei?

Assim

Cheguei ate aqui assim

Sem saber se deveria chegar
Caminhei ate ali assim

Sem saber pra onde caminhar

Pulei, corri, chorei, sorri

Tudo sem saber do fim
Tudo sem lembrar do começo

Tudo sem saber do fim.

1 de fev. de 2009

2 em 1 só

Calmaria

Toda essa vontade
viciante

Que não espera
amanhecer

É tudo indício,
é quase um gesto,

Um jeito da
vida dizer

Que daqui pra frente vai ser eu e você
E todo esse caos rubro que anuncia -
Trânsito, ponte, Sé e Barra Funda -
Não é maior que meu desejo de calmaria
Noite e dia, noite e dia

Nada melhor do que acordar
E poder te dizer bom dia.

Era

Meu segredo mais guardado

É maior que teu pior pecado
E meu desejo forte e lento
Te fez perder qualquer tormento
E o medo de ter medo me fez
Chorar um pouco mais
Que os tempos de infancia
Quando eu brincava de herói
E pensava que era tudo paz
Mesmo sabendo que o mundo
Era muito mais.

11 de jan. de 2009

Horizonte

Azul

Eu não sou de usar
Palavra empolada pra me expressar
Prefiro fugir dos maneirismos mil
Do que tentar enfeitar o que não sei dizer
E eu que tinha medo de ser trivial
Agora só escrevo pra descalçar o mal
Aquele mal que outrora andara por aqui
Já nem vi, já correu, já partiu
Se for voltar, que seja amanhã ou depois,
Pois agora quero descansar
Quero uma volúpia casual, quero o mar
Um abraço de primo, comida de vó
Quero um "oi" e, talvez, o sexo
De uma donzela qualquer,
Pendões de vitória, ninfas de manhã,
Brisas fortuitas, maré cheia, fui embora
Sujei de humano o grande lago azul

Deixa soar a lira dos acasos
E o eco dos meus passos
Vai alcançar o horizonte azul
Deixa eu fitar o horizonte azul
Quero gozar o horizonte azul
E eu vou lá

Eu não sou de usar
Palavra empolada pra me expressar
Prefiro fugir dos maneirismos mil
Do que tentar enfeitar o que não sei dizer
Me cansei e já nem sei dizer
Por que há de ser o norte o sul?
Por que há de ser minha ânsia vã
Se acordei com minha voz sã?
O barulho escuro da chuva vai repousar

Deixa soar a lira dos acasos
E o eco dos meus passos
Vai alcançar o horizonte azul
Deixa eu fitar o horizonte azul
Quero gozar o horizonte azul
E eu vou lá

Quero me perder nesse azul
Quero me prender nesse azul
E eu vou lá.

3 de jan. de 2009

Coletivo

Para aqueles que por algum motivo acompanham este blog ou passam por aqui aleatoriamente, este é um post diferente. Dessa vez, posto para indicar um blog coletivo na qual tive o prazer de ser convidado a participar.

São 15 pessoas postando nos dias ímpares do mês sobre poesia, prosa, artes plásticas, ilustração, vídeo, eventos, discussões, música, animação, etc. Só pra constar, meu dia de postagem é dia 3 e hoje foi meu primeiro post.

Que venham outros e que venham os outros!

O link para aqueles que quiserem conhecer o projeto é:
http://manazinabre.blogspot.com/

Abraço a todos e feliz 2009.